Quem sou eu

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Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doido. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. - Clarice Lispector

Retrospecto 2011

2011 vai ficar marcado pra sempre na memória. Compilar os saldos deste ano, implica em recordar de momentos ainda não cicatrizados. Mas recordar é viver e é preciso viver, viver a própria vida, escrever os próprios passos, olhar pra frente, mas nunca esquecer os caminhos já percorridos. Atravessar 344km não são suficientes para encontrar o verdadeiro amor. Não importa a distância quando o amor verdadeiro está dentro de nós mesmos. Encontrar a felicidade pode enredar a paz interior. Abrir mão de planos e sonhos talvez seja um passo muito largo quando se tem apenas 25 anos, ou não, pois 25 anos, ou menos, pode ser o tempo de uma vida inteira que se encerra precocemente, mas vivida intensamente por uma pessoa que soube aproveitar cada minuto, é o tempo exato de uma vida. Ainda não sei se se deve viver cada dia como se fosse o último dia de vida, mas certamente agradecer a oportunidade de a cada dia escrever a própria história e continuar sonhando.  E como abrir mão desses sonhos não estavam nos planos, o jeito é continuar sonhando e cada vez mais alto, mas nunca esquecer que não adianta apenas sonhar e não fazer nada para realizar estes. 2011 foi assim, repleto de sonhos e realizações, ganhos e perdas, mais um ano que teve começo, meio e fim, muito mais intenso que todos os anos anteriores, mas um ano que passou e deixou cicatrizes abertas para reflexões. Adeus 2011, obrigado por mais um ano marcante. Venha 2012 como uma folha em branco para recomeçar a escrever um próximo capítulo...

Desenha-me um sol...

Queria nunca mais me enganar, queria não ter medo de me machucar novamente, de sofrer novamente, de me entregar novamente... Queria ter o dom de superar alguns sofrimentos e seguir em frente, mas a cada dia que passa, esse aperto e as cicatrizes insistem em me lembrar os caminhos que já percorri... Hoje, existir, nada mais é do que um dia após outro, conviver com as imperfeições e lembranças de uma história que não teve fim, ocupando os pensamentos com preocupações exageradas, que antes eram tão corriqueiras, mas que hoje da-se tanta importância afim de distrair o pensamento, mas lembrar é inevitável, as cicatrizes estão aí, são visíveis, para jamais esquecer, como se fosse capaz esquecer algo que não se quer esquecer. Por mais ensolarados que sejam os dias, essa nuvem de melancolia e incerteza teima em sobrevoar os sonhos que até alguns meses atrás pareciam tão reais e tangíveis...


"eu gosto da luz do sol, mas chove sempre agora sem você..."

Chuvas de Verão

O tempo se fecha para mais uma precipitação. A cada gota que cai um sentimento aqui cresce. Lava com águas turbulentas as manchas de dor e tristeza. Submerge todo o passado de angústia e desilusões. A ventania arremessa a chuva contra a janela, que parece não querer cessar. Os olhos se fecham assustados com os trovões que enlevam os pensamentos para outro lugar... A escuridão que se fazia sentir pequeno e indefeso dá lugar ao brilho multicolorido de um abraço quente e apertado que traz de volta a sensação de segurança e paz. Um único beijo é capaz de tirar os pés do chão e esquecer de todo o resto. Envolvido por este momento os olhos se abrem. A tempestade passou, águas passadas levaram o abraço e o beijo também... Mas o canto dos pássaros e as cores do arco-íris lá fora indicam dias melhores e não apenas um amor de verão...

adeus ano velho...

O ano de 2010 se vai, mas ficam as conquistas. Muitas coisas mudaram, a maioria para melhor e novas convicções me fizeram enxergar a vida sob novo ângulo. Descobri que o amor pode estar do seu lado ou a 344 km de distância, mas o verdadeiro amor está dentro de nós mesmos. O verdadeiro amor é aquele canto baixinho de passarinho no fundo do coração, que só se ouve dentro da alma e por quem se dá a oportunidade de amar e se sentir amado. Dessa forma um novo ano começa com os pés no chão e a esperança no coração de atravessar esses 344 km e diminuir a distância que as almas não conhecem. 

(des)conexo

Quando vou deitar penso em você em seu quarto dormindo. Enquanto durmo, uma associação de imagens sobrenaturais e extraordinárias transfiguram pensamentos em visões que me levam até você. Ao despertar em minha cama ainda sinto você ao meu lado, com os braços sobre meu corpo dormindo como um anjo. Volto a fechar os olhos pra que sua ausente presença permaneça nesse desconexo.
A experiência mais doce e real que já sonhei, o sentido e a razão de que para estar junto não é preciso estar perto, mas dentro. Que amar não é tão somente dar e receber, mas se perder e se entregar, doar e pertencer. É sentir sem se tocar, estar e não estar, sonhar e acontecer. Te amo hoje, sempre e cada vez mais.

Incolecionável

Não quero ser mais uma peça rara para o seu relicário. Quero ser a única e insubstituível peça que completa e se encaixa perfeitamente, acrescentando coisas boas. Não quero ser apenas mais um, amar pela metade ou reprimir meus sentimentos. Se eu pudesse ser quem você queria, mas infelizmente não posso superar isso. Outras convicções, não necessariamente diferentes, mas complementares, me ajudam a espantar meus "monstros" e volto a acreditar em corações humanos e quentes. A ponto de pegar fogo, vibrar como a bateria de uma escola de samba e sentir o corpo todo tremer com a ressurreição da esperança. Obrigado Dand.

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres

 E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito. Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e a minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e segurança por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregues a nós mesmos pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo” e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta.”

Clarice Lispector - 1969

Desespero ou reflexão?

Desespero ou reflexão? Render-se ao sofrimento ou aceitar a própria razão? Presságio de agora acreditar em si mesmo e não ceder a renúncia que às vezes pode custar caro. Sofrer muito e muitas vezes, mas descobrir que pra tudo existe uma razão e receber como doação a oferta, que na maioria das vezes a razão do sofrimento nada mais era que o medo de se entregar e não de libertar o que estava preso.
Responsável pela própria existência e pelo, e por tudo e todos que o destino se encarregou de cruzar o caminho obrigar-se-á a orar pelos desesperançados, pelos que não encontraram sua razão, pelos não correspondidos, pelos não ditos, pelos sufocados, sem direção... Encontre seus sonhos na realidade, pulse o coração por alguém, conceda seus sentimentos, encontre as palavras que te completem e as palavras se transformarão em gestos...

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector in Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

universo e você


O sol se põe sob minha janela, mas você não está aqui pra ver as cores mudarem. Embora onde quer que você esteja, as cores no céu sejam as mesmas e o vento que me leva os escritos sobre a mesa seja o mesmo que te sopra os ouvidos. Ainda que não levem consigo as palavras que outrora escrevi, as cores e o vento assim como a melancolia invadem a alcova onde abrigo-me na omissão desse estro. Renuncio então escrever sobre sentimentos que não sinto, e escrever é exatamente libertar o contido, as inspirações latejantes, que pulsam no fundo da alma, que tiram a respiração e me levam por um caminho turvo fora de órbita.

Idealizando...

Definitivamente inverno. No céu, os raios de sol refletem as cores do outono entre o desnível dos vales que o cercam e as nuvens. Os raios, invadem a fina trama entreaberta da cortina na janela. No silêncio de um chalet no alto da montanha, o único som é o estalar do carvalho incandescente na lareira. O topo do mundo. Lá em baixo a vida segue em seu ritmo frenético. Mais uma vez o impetuoso vento frio sopra e zune entre os galhos lá fora, mas "não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro." Aqui o mundo pára e dá lugar a um momento único e poético. No soalho, os pés tocam um tapete macio. Sobre a cama virada com os pés para a lareira, o pesado e perfumado cobertor de retalhos cai despropositalmente sobre os corpos aquecidos, não pela lareira, mas pela flama que queima e arde por dentro quando estão juntos... O cheiro da madeira queimando é neutralizado pelo vapor da ebulição da água no fogão que prepara o chá de maçã, gengibre e canela, pra você erva doce ou camomila? A mistura de sabores só completa o clima perfeito. Perfeito para um fim de semana perfeito, com a pessoa perfeita.

pra você guardei o amor

Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar

Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei

Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar

Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar

Vou nascer de novo
Lápis, edifício, Tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar

Composição: Nando Reis

me surpreenda

Hoje acordei com um vulnerável vazio dentro de mim. Antes de abrir os olhos, enxerguei a escuridão de amar mais do que o impossível. Ao me levantar, meus pés tocaram o abismo onde me afundei... Tomei meu café da manhã e esperei que viesse até mim num sopro matinal e me surpreendesse com um abraço quente e um sussurrado bom dia. Mas você não veio e não virá. Você é a lembrança mais real de algo que nunca aconteceu, o déjà vu jamais visto, é o mais platônico de todos os amores que eu já vivi. Existe tão somente em meus sonhos mais inconscientes, revelado nas entrelinhas do meu silêncio.

"Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É nesse sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento; de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender".
Clarice Lispector em A Descoberta do Mundo

Photo by Daniele Diório, uma amiga muito especial que sumiu, coloquei-a aqui pra ver se ela aparece para me cobrar os direitos autorais.

Mais um outono...

Não há como disfarçar que nessa época do ano eu me sinto mais introspectivo ou simplesmente dissimular os sentimentos à flor da pele. Meu coração bate mais rápido. Os raios de sol que penetram entre os galhos de uma árvore, esquentam minha pele, aquecem o meu sangue e me fazem lembrar o abraço que eu nunca dei. O vento que me toca a pele é o mesmo vento que me sopra ao passado. Fechando os olhos eu consigo ver o trailer de um filme que não está mais em cartaz e até mesmo sentir o cheiro inconfundível daquela época, como o cheiro de um livro guardado na estante. O outono me domina com um frio na barriga e um arrepio na espinha. Não me reconheço, é como se eu pudesse me apaixonar pela primeira vez... de novo.

"O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, sempre está. Falta apenas o golpe de graça - que se chama paixão."
Clarice Lispector em A Paixão Segundo G.H.

retrospectiva 2009

Lá se vai mais um ano, esvaindo pelos dedos... Quantas coisas aconteceram neste ano que passou... passou tão rápido que sequer consegui escrever neste blog abandonado... Well, aqui estou eu, e vou fazer deste primeiro e último post do ano minha retrospectiva de 2009, para que um dia quando meu cérebro precisar ser formatado e as lembranças começarem a se esvair também, ao menos terei este blog para me lembrar desses instantes que não pararam e não voltarão...

Mas antes quero finalmente postar um rascunho que eu encontrei gravado aqui há exatamente um ano atrás:

"E assim na chegada de um verão chuvoso e impetuoso num resumo de 17 posts, mais um ano se vai... e que ano! Perdas significantes e conquistas para tentar preencher o vazio que ficou. Um [grande] passo, uma chance a mim mesmo... A felicidade oscilou com a tristeza, e muitos princípios se reforçaram. Novas idéias para o próximo ano e o próximo... Minhas cartas ainda estão no jogo e eu jogo com elas... 2009 começa para ser o fecho de mais um ciclo, mtas coisas prometem acontecer e hão de acontecer!"

E realmente aconteceram... Quantas coisas!!! Alanis abriu meu último de faculdade com tapete vermelho (Nossa como fiquei feliz por estar a poucos centímetros de uma estrela!) Em resumo: emoção à flor da pele e metade da baqueta do Blair Sinta. Como diz a Raposa, cativei e me deixei cativar por novos amigos insubistituíveis, que indiretamente me deram força para explorar novos aspectos da vida, novos sabores e reforçar ainda mais meus princípios como ser humano. Agradeço primeiramente a mim mesmo por me dar esta oportunidade e ao meus amigos por me proporcionarem estes momentos únicos e inesquecíveis. Por fim me formo com a tranquilidade de dever cumprido, 8 Prêmios Destaque e amizades para toda vida.

Dias de sol, outros de chuva, passaram... passaram-se os meses, as semanas, os dias... se foram para nunca mais voltar, felizmente ou não... o importante é saber que mais um novo ciclo está para começar, as oportunidades me esperam e eu continuo jogando.

Pela janela desse edifício as estações e suas imprescindíveis reflexões me orientam a colorir a vida em suas cores e vesti-las de alma e fantasia.

"(...) uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso. (...)"
Clarice Lispector em Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres

haru

Nas ruas
Esperança se refaz
Aos poucos
Viram-se as páginas
Ao branco e preto
Primeiros raios de cor
Despertam a primavera
Embaixo de sakuras

rosa-dos-ventos

Algumas pessoas fazem  todo sentido,
Mas nem sempre, quase nunca
Falam o que precisam falar,
Se calam quando precisam dizer
E falam quando precisam ouvir...

Algumas pessoas fazem todo sentido
Mas às vezes, quase sempre
Desorientam ao invés de orientar
Orientam ao invés de sumir
E somem quando estamos perdidos...

Algumas pessoas fazem todo sentido
Mas quase na maioria das vezes
Sorriem para não nos fazer chorar
Choram em silêncio
E silenciam...

vida presente

Volta a colorir
páginas em preto e branco,
que fazem parte de sua vida
ainda que possível outras
maquia sua epígrafe nas mesmas.

Cada folha que cai
Cada gota que cai
Aqui e lá fora,
[caos]
Simples complexo
Vida presente em preto e branco.

epifania

Ouviu pela janela o vento zunir entre os galhos secos e deu-se conta que a chama estava se apagando. Eram três horas da manhã e ainda estava acordado, procurando no silêncio traduzir sua agonia. O inverno dentro de si, estendia-se até suas mãos que travadas não conseguiam escrever palavra qualquer. A insônia assim como o frio instalou-se naquele quarto, e fizeram-o lembrar alguns fatos que o levaram até ali. O gosto amargo das unhas roídas confundia-se ao gosto atônito de suas próprias escolhas. A vontade de sumir foi tão tão forte que por alguns segundos hesitou e sumiu, simplesmente sumiu, não estava mais naquele quarto muito menos em si, não conseguia pensar em nada, aquele instante foi o momento mais nirvânico que já vivera, nem percebeu que tudo aquilo aconteceu em poucos segundos...

hibernar

Então o outono se despede e dá lugar ao inverno... É hora de hibernar, entorpecer os sentimentos à flor da pele, agora o sangue frio se confunde aos galhos nus. As folhas se foram, levaram consigo as cores lúdicas de um outono nostálgico... Ao acordar, quero café na cama, sentir o cheiro do crepúsculo matutino, do sol derretendo o gelo e aquecendo o plasma, florescendo uma primavera multicolorida.

No ciclo eterno das mudáveis coisas
Novo inverno após novo outono volve
À diferente terra
Com a mesma maneira.
Porém a mim nem me acha diferente
Nem diferente deixa-me, fechado
Na clausura maligna
Da índole indecisa.
Presa da pálida fatalidade
De não mudar-me, me infiel renovo
Aos propósitos mudos
Morituros e infindos.
(Ricardo Reis - Fernando Pessoa)

[errata]

Mesmo tendo este blog um conceito estético preto (no) branco, hoje, abro exceção para essa linda paisagem que traduz bem o que eu quis dizer anteriormente, do contraste das cores quentes com o clima frio, da nostalgia que eu "supostamente" não sabia do que se tratava, mas que na verdade é a mesma saudade de algo que realmente nunca aconteceu, como eu havia mencionado...
Há exatos dois anos, fui surpreendido pelo o que eu acreditava ser meu "primeiro verdadeiro amor", algo pelo qual eu esperava há muito tempo, foi a primeira vez que havia experimentado a cumplicidade e a reciprocidade verdadeira de um sentimento e o mais comum e esperado é que o primeiro verdadeiro amor venha acompanhado do primeiro verdadeiro beijo, o que não aconteceu... Todavia aconteceram muitas coisas depois daquele outono, que contribuiram significativamente para a formação da pessoa que sou hoje...
É verdade que o primeiro amor a gente nunca esquece e no meu caso não tem como esquecer, foi por causa dele que aperfeiçoei minha visão poética da vida, a partir daquele outono reinventei-me e me permiti ser feliz, de modo a olhar pra dentro de mim mesmo e perceber que meus defeitos e virtudes são normais e que esses me são muito importantes, pois fazem de mim a pessoa que eu sou e que preciso ser tolerante com os meus defeitos e valorizar sempre as minhas virtudes e as dos outros.
Enfim foi um momento muito especial da minha vida, e é sempre bom relembrar momentos como este e conseguir fazer uma análise positiva de tudo que aconteceu. Infelizmente nem sempre os bons momentos deixam marcas tão profundas e visíveis como as cicatrizes provocadas pelos tombos que sofremos durante o percurso de nossas vidas... E outra verdade é que apesar de ao mesmo tempo me sentir auto-suficiente também sinto saudades do tempo em que me apaixonava facilmente e tinha inspirações fantásticas como essa:

"Eis que alcancei a plenitude
dos que jamais serão
Ao respirar pelos pulmões
o que me falta ao coração
Para tais amantes
A dor que o tempo faz do tempo
terminaram..."
(escrito em 25 de maio de 2006)

ruas de outono

O outono me inspira, e é, na minha opinião, a melhor estação do ano, as cores quentes da paisagem contrastam com o clima frio e a gnt sente vontade de ficar mais próximo um do outro, eu sinto uma nostalgia no ar, e eu sinto saudade de algo que eu não sei o que é e que tvz seja algo que nunca aconteceu, é estranho e ao msm tempo bom, é como se algo extraordinário e místico fosse acontecer a qqr hora... Td outono espero algo sobrenatural acontecer... Como no filme "Outono em NY" em que durante o outono alguma coisa acontece e muda a vida dos personagens para sempre... Dias assim me lembram o trecho de um poema do eterno Fernando Pessoa...

"Uma névoa de outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu..."

in memoriam

Qd td está perdido / Sempre existe um caminho / Qdo td está perdido / Sempre existe uma luz / Mas não me diga isso / Hj a tristeza não é passageira / Hj fiquei com febre a tarde inteira / E qdo chegar a noite / Cada estrela parecerá uma lágrima / Queria ser como os outros / E rir das desgraças da vida / Ou fingir estar sempre bem / Ver a leveza das coisas com humor / Mas não me diga isso / É só hj e isso passa / Só me deixe aqui quieto / Isso passa / Amanhã é um outro dia, não é? / Eu nem sei pq me sinto assim / Vem de repente um anjo triste perto de mim / E essa febre que não passa / E meu sorriso sem graça / Não me dê atenção / Mas obrigado por pensar em mim / Qdo td está perdido / Sempre existe uma luz / Qdo td está perdido / Sempre existe um caminho / Qdo td está perdido / Eu me sinto tão sozinho / Qdo td está perdido/ Não quero mais ser quem eu sou / Mas não me diga isso / Não me dê atenção / E obrigado por pensar em mim...
(A Via Láctea - Legião Urbana)


Em memória do meu irmão pelo seu exemplo de força na vida, determinação e coragem.

Vivaldo Ferreira dos Santos - Ferrera (1974 - 2008)

no meio do mundo

"Um edifício no meio do mundo" é um sentimento mutante. Tds já passaram por uma fase assim, é uma mistura de sofrimento, separação, auto-conhecimento, paixão e amor. A verdade é que esse é um sentimento que somente se deve sentir. Como diz uma das minhas poetisas prediletas, Clarice Lispector:

"Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora,
pois tudo passa a acontecer dentro de nós"

Essa é uma das características de pessoas intensas, pois rotinamente costumam passar por momentos como esse. As pessoas intensas estão suscetíveis à ambíguidade. Ora esse "tudo" representa um sentimento bom, mas que às vzs tb significa solidão... A verdade é que os sentimentos são mutantes, eles se modificam e amadurecem com o tempo, passando por transformações que chegam a nos confundir e interpelarmos sobre o que realmente sentimos em relação à determinada pessoa, coisa ou assunto...

amor por luis fernando veríssimo

Ela: Vc me ama mais do que td?
Ele: Amo.
Ela: Paixão, paixão?
Ele: Paixão, paixão mesmo.
Ela: Mais do que td no mundo?
Ele: No mundo td e fora dele.
Ela: Num acredito.
Ele: Faz um teste.
Ela: Eu ou fios de ovos?
Ele: Vc, fácil.
Ela: Daqueles com calda grossa, que a gnt chupa o fio e a calda escorre pelo queixo.
Ele: Prefiro vc.
Ela: Futebol.
Ele: Não tem comparação.
Ela: Vc está caminhando, vem uma bola quicando, a garotada grita "Devolve tio" e vc domina, faz dezessete embaixadas e chuta com perfeição.
Ele: Prefiro vc.
Ela: Internacional e Milan em Tóquio pelo campeonato do mundo, passagem e entrada de graça.
Ele: Vc vai junto?
Ela Não.
Ele: Pela televisão se vê melhor.
Ela: Faz mto calor. Aí chove, aí abre o sol, aí vem uma brisa fresca com aquele cheiro de terra molhada, aí toca uma música no rádio e é uma nova do Paulinho. E é sexta-feira e a televisão anunciou um Hitchcock sem dublagem para aquela noite... e o Itamar está dando certo.
Ele: Vc.
Ela: Voltar a infância só pra poder pisar na lama com o pé descalço e sentir fazer squish entre os dedos.
Ele: Vc longe.
Ela: A Sharon Stone telefona e diz que é ela ou eu.
Ele: Que dúvida. Vc.
Ela: Cheiro de livro novo. Solo de sax alto. Criança distraída. Canetinha japonesa. Bateria de escola de samba. Lençol recém-lavado. Letra do Aldir Blanc. Pastel de rodoviária.
Ele: Vc, vc, vc, vc, vc, vc, vc, vc, vc e vc respectivamente.
Ela: A Sharon Stone telefona novamente e diz que se vc se livrar de mim ela já vem sem calcinha.
Ele: Desligo o telefone.
Ela: Fama e fortuna. A explicação do universo e do mercado de commodities, com exclusividade. A vida eterna e um cartão de crédito que nunca expira.
Ele: Prefiro vc.
Ela: Um cerveja geladinha. A garrafa chega estalando. No copo fica com um quarto de espuma firme. O resto é ela, só ela, dzndo "Vem".
Ele: Hummm...
Ela: Como, hummm? Ela ou eu?
(Silêncio de 5 segundos)
Ele: Qual é a marca?
Ela: Seu cretino.


Pra mostrar que além de complexo e misterioso o amor tb pode ser cretino e alcoólatra...

citações

Algumas pessoas passam a vida inteira procurando (ou esperando) alguém que às vzs está tão próximo, mas pq será que passa-se tanto tempo à procura (ou à espera) desse alguém, se o msm está diante dos olhos??? Tvz esse alguém seja mto perfeito ou mto idealizado... A verdade é que não se quer enxergá-lo, pois existe uma cortina de insegurança e medo de se apaixonar... essa reflexão me fez lembrar um trecho do soneto do Poetinha:


"São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida."
(fragmento do Soneto do Corifeu de Vinicius de Moraes)


E a tradução de uma música da Kelly Clarkson:


"O problema do amor é que ele pode te destruir por dentro / Faz seu coração acreditar em uma mentira / É mais forte que seu orgulho / O problema do amor é que não importa quão rápido vc caia / Vc não pode negar sua chamada / Veja, vc não tem o que dzr."
(Tradução de The Trouble With Love Is)


O medo de se entregar à uma paixão pode ser compreendida por acreditar que às vzs é melhor saber que a pessoa certa está ali e por algum momento ignorá-la, quebrar a cara com a pessoa errada e assim aprender a valorizar os valores (por mais redundante que seja), virtudes e defeitos que são tão importantes pra vc e para a outra pessoa... A única segurança então é a ctz de poder quebrar a cara qts vzs forem necessárias, pq a pessoa certa sempre chega na hora certa, fala e faz as coisas certas, assim como diz Veríssimo (o filho e não o pai, mas que tb era fantástico e que é inspiração para outros posts hehehehehe...)
Enfim mtas citações para tentar explicar um sentimento tão complexo e misterioso...

destino

Mtas pessoas já conhecem minha fascinação pela história do Pequeno Príncipe, mas poucos sabem o porquê dessa minha fascinação... Desde criança eu já era viciado em leitura, vivia na biblioteca do meu bairro e aos 8 anos li O Pequeno Príncipe pela primeira vez. Aos 15 anos fiz um curso de Literatura Francesa e ganhei o livro da minha então professora, Mônica Rodrigues, que tb é apaixonada pelo livro, confesso que naquela época achei a história meio boba. Três anos depois fui ao centro de São Paulo para um casting, mas havia chegado mto cedo e lá perto tinha um sebo onde decidi entrar para passar o tempo, lá conheci uma vendedora que tb era apaixonada pelo livro e até tinha uma tatoo do principezinho, conversamos mto e ela me convenceu a ler o livro sem a seriedade de gente grande, imaginem a minha surpresa ao chegar em casa e encontrar a edição comemorativa de 50 anos do livro na mesa do escritório! Minha irmã havia comprado o livro no msm dia. Li o livro e fiquei chocado com carga emocional daquela história. Resultado, reli o livro umas 15 vezes naquela semana na tentativa de recuperar td tempo que havia perdido sem as lições de vida narradas por Exupéry e desde então me apaixono cada dia mais pela a história do principezinho e tenho feito dela qse que uma filosofia de vida.
Td em nossa vida acontece no momento que deve acontecer e nada acontece por acaso... O destino me fez enxergar o tesouro que eu guardara a tanto tempo em uma estante empoeirada, hj aos 21 anos, uma das coisas mais importantes que me aconteceram foi descobrir no Pequeno Príncipe, não só uma, mas mil novas formas de enxergar a vida, as pessoas e as coisas que me ocorrem. Se vcs acreditam em destino, foi ele quem me presenteou com a história do Pequeno Príncipe e não tem preço o que eu aprendi e as pessoas que conquistei, ou melhor, cativei. Gostaria de compartilhar com vcs essa emoção e convencê-los à ler esta história sem a seriedade de gente grande e então descobrir a importância de uma rosa. Fica a dica!

tchau 2007!

Mais um ano se foi... e que ano! 2007 foi pra mim um ano histórico e inesquecível, aconteceram mtas coisas boas e uma coisa mto triste que valem por 17 anos, mas esse é um assunto que espero deixar pro ano que passou... Este blog se inicia com a esperança de registrar bons momentos, mas como os momentos tristes tb fzm parte do cotidiano, pois é preciso que alguns dias não sejam ensolarados para alimentarmos nossa sabedoria com a frieza de dias nublados e chuvosos e assim valorizar mais os dias de sol. Desejo à tds meus amigos e visitantes deste blog um 2008 de mta saúde, paz, sucesso e sabedoria! Feliz 2008 à tds!